Palavralgia
Preciso de um móvel,
Que eu possa colocar
Nos incômodos da minha casa íntima.
Um móvel bem grande,
Que me mova e
Em que caibam
Toda minha comodidade e
Toda minha imobilidade.
Palavralgia
Sou a maestrina de mil vozes
Que ecoam dentro de mim.
Umas sussurram baixinho,
Outras gritam histéricas feito loucas,
Algumas reclamam o tempo todo,
Muitas são insistentes,
Algumas outras simplesmante se calam,
Mas estas últimas, dissimuladas,
Ficam enviando renitentes mensagens mudas.
A todas ouço,
Mas a nem todas dou ouvidos.
Somente a algumas obedeço,
Ou elas me vencem pela insistência
Ou pelo cansaço.
São elas que me incentivam,
Mais do que qualquer outra coisa,
A realizar meus intentos,
A aplacar meus tormentos
E a ter menos comedimento.

Por isso, deixo que as vozes falem
E falem bem mais alto que a sensatez.

São elas que me fazem assim.
Meio inquieta.
Meio confusa, meio louca, meio poeta.
Essa sou eu,
Inteirinha, toda incompleta.

(Para ouvir a declamação deste poema, click na imagem das flores à direita)
Palavralgia
As horas são soldados impiedosos que exterminam o tempo incessantemente.
Loucas, elas o perseguem e devoram friamente, num movimento mecânico, quase imperceptível, mas perverso, contínuo, perene.
Palavralgia
A Flip 2011 homenageia o escritor modernista Oswald de Andrade, protagonista da Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.

Cada dia da semana foi dedicado a um tema: pintura, escultura, poesia, literatura e música.

Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas idéias ao longo do tempo. O movimento modernista continuou a expandir-se por divulgações através da Revista Antropofágica e da Revista Klaxon, e também pelos seguintes movimentos: Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Verde-Amarelismo e pelo Movimento Antropofágico.

Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald Andrade, Victor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Mnotti Del Pichia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, heitor Villa-Lobos, Tarsila do Amaral, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros, e como um dos organizadores o intelectual Rubens Borda de Moraes que, entretanto, por estar doente, dela não participou.
Palavralgia
Existe uma janela em mim.
Ela fica entre a noite e o dia.
Por ela viajo,
Num ir e vir permanente.

Quando a noite chega,
Eu pulo a janela.

Quando a janela
Se fecha para a noite,
Os dias se tornam
Longos, vazios e tristes.

Por isso não me canso
De esperar na janela,
Pois a noite me fertiliza.
São os insondáveis segredos da noite.

Fertilizada, milhões de holofotes
Mentais se acendem e dou à luz
Em plena escuridão noturna.
Mas isso só é possível
Por causa dos mistérios da noite.

Recebo os filhos da noite
Em meus braços
E os alimento no seio da noite,
Garantindo a estes rebentos
Produtiva existência por toda eternidade.

É preciso que se abra
A janela noturna
Para que nunca faltem noites
Em meus dias.