Cada um tem uma verdade, inventada e institucionalizada por si próprio.
Nós construímos, vestimos, comemos, respiramos a verdade. Trabalhamos, dormimos, acordamos e casamos com ela, fazemos ela crescer. Todos os nossos pensamentos, desejos, ações e atitudes estão fortemente embasados na nossa verdade.
Acreditamos firmemente estar a nossa existência seguramente calcada nesta verdade que incorporamos e, investidos de todo o poder que a verdade nos confere, falamos alto, gritamos, esbravejamos, batemos no peito.
Bilhões e bilhões de pessoas constituem a população mundial e, assim como eu construo a minha verdade, cada um edifica a sua.
Afinal, com quem está a verdade?
Acontece que existe um dispositivo especializado em detonar verdades individuais com precisão. Este dispositivo foi caprichosamente denominado de adversidade. A adversidade normalmente se apresenta quando nos deparamos com outras verdades.
Diante da adversidade, o nosso edifício rui e novas verdades se apresentam. Percebemos que já não vestimos aquela verdade, que ela arrumou outro e foi embora, que já fomos despedidos sem despedida etc.
O caleidoscópio gira e observamos, por outra lente, que aquela verdade, aquilo que acreditávamos ser, chocou-se com as verdades com que as outras pessoas se vestem e revestem.
Tem gente que morre achando que é tudo verdade!
Já que teimamos em criar uma verdade, é bom construirmos verdades flexíveis, porque as rígidas demais são as que se partem com maior facilidade e quanto maior o tamanho da nossa verdade, maiores os estragos em seu desmoronamento. É duro ver tudo em que acreditávamos ardentemente cair por terra completamente. Mais duro ainda é, de uma hora para outra, tentar caber numa nova verdade e ter que viver de meias verdades ou, na falta da nossa própria, nos apropriarmos da verdade alheia.
A bem da verdade, temos que admitir que ela é uma só e que ninguém tem seu certificado de propriedade.
Então, o melhor mesmo é assumirmos de vez que, definitivamente, não somos donos da verdade.