Jamais
é oco, vazio por dentro; o que não é já, o que não é mais, o que já não é, sem
jamais ter sido.
Jamais
não atende aos imperativos intensos do instante já, porque contraria, com a
ordem ortográfica, os apelos semânticos. Despindo jamais do sentido primeiro,
verifica-se que ele pode ser, por exemplo, uma súplica de tempo: é preciso mais
já, mais agora, mais momentos, mais instantes. Se assim fosse, eu não o
deixaria desnudo de todo, estaria usando um pouco da minha habilidade de
estilista para vesti-lo, ou melhor, revesti-lo com estilo já mais próprio.
Já
em sentido próprio, jamais pode ter todo tempo e nenhum, ao mesmo tempo. Pode
ser a negação infinita. Não que isso seja ruim, dependendo do que seja negação.
De
qualquer forma, jamais é vazio. Mas é preciso ter cuidado com o emprego, porque
“jamais é vazio” pode significar que é cheio, ou pelo menos que tem algum conteúdo.
E achar algum conteúdo no que se pensava vazio, pode ser muito interessante.
Aí
desaparece o jamais, que é oco, para dar lugar ao recheado.
Jamais
oco ou jamais recheado? É preciso ter cautela, porque um pode ser o outro e ou
outro pode ser o um.
Tudo
é possível.