Palavralgia
Jamais é oco, vazio por dentro; o que não é já, o que não é mais, o que já não é, sem jamais ter sido.

Jamais não atende aos imperativos intensos do instante já, porque contraria, com a ordem ortográfica, os apelos semânticos. Despindo jamais do sentido primeiro, verifica-se que ele pode ser, por exemplo, uma súplica de tempo: é preciso mais já, mais agora, mais momentos, mais instantes. Se assim fosse, eu não o deixaria desnudo de todo, estaria usando um pouco da minha habilidade de estilista para vesti-lo, ou melhor, revesti-lo com estilo já mais próprio.

Já em sentido próprio, jamais pode ter todo tempo e nenhum, ao mesmo tempo. Pode ser a negação infinita. Não que isso seja ruim, dependendo do que seja negação.

De qualquer forma, jamais é vazio. Mas é preciso ter cuidado com o emprego, porque “jamais é vazio” pode significar que é cheio, ou pelo menos que tem algum conteúdo. E achar algum conteúdo no que se pensava vazio, pode ser muito interessante.

Aí desaparece o jamais, que é oco, para dar lugar ao recheado.

Jamais oco ou jamais recheado? É preciso ter cautela, porque um pode ser o outro e ou outro pode ser o um.

Tudo é possível.

Palavralgia
De repente está tudo tão tedioso,
Ao som de mim mesma.

O meu é um silêncio alongado, esticado,
E é silencio mesmo quando está quebrado.

O meu silêncio é como um fio condutor;
Mesmo que se quebre por fora,
Ainda é silêncio no interior.

Palavralgia
Quando amanhecer,
Já haverei partido
Para os saudosos, verdejantes e  ensolarados
Sítios de atrás,
Onde não existe nunca mais.
Palavralgia
O poeta nasce após nove meses de gestação,
Mas é um ser diferente.
Nasce com olhos que ouvem,
Ouvidos que enxergam e
Mãos que falam.
Respira por todos os poros,
Traduzindo tudo em palavras que
Encaixam-se numa perfeição divina
Perpetuada pela eternidade.
O poeta é o único ser que
Contraria os princípios evolutivos da humanidade
Porque ele nasce, cresce e não morre.