Palavralgia
E ele já nasce cansado de ser jovem.

Um velho árvore de onde brotam poemas maduros,
Poemas de vez em quando,
Poemas tenros ainda, ásperos, azedos, doces,
Os enraizados, os arrancados
Os troncudos, os floridos, os cheios de ramos
Os derramados pelos vendavais,
Os que resistiram a temporais,
Os regados pelos orvalhos matinais,
Os que ainda não desabrocharam
Os que morreram ainda em botão,
Os que nasceram por teimosia,
Os que sempre precisam de adubo.

Tem um velho nascendo em mim
Entranhado desde criança
Um velho que adora amenidades
Mas com alguma coisa dentro
Porque amenidades puras
São difíceis de engolir.

Tem uma árvore dentro de mim,
Cultivada desde a semente,
Pelo velho entranhado
Mas que agora, cresce descontroladamente
E coloca os galinhos de fora,
A saírem boca afora
Cheios de ramos, folhagens e flores,
Desengolidas amenidades impuras,
aromas, amores e temores.

Ela cresce a olhos vistos.
Olhos, ouvidos, nariz e garganta afora
Escancaradamente,
Escancarada mente
Dilacerando a maternidade.

Mente que crescerá amena
E o velho, que adora amenidade,
A cultiva com pueril ingenuidade.
Palavralgia
Todos nós fomos meninos,
Brincamos de pique e de bola,
Fomos à escola,
Fizemos nossos destinos.

Hoje dirigimos as escolas,
Grandes empresas e até países.
Influímos no e decidimos o
Futuro das pessoas.

Somos médicos, enfermeiros,
Advogados, professores, engenheiros,
Guerreiros da guerra e da paz
Amados, desarmados,
Armados e “desamados”
Sempre amados e amadores
Com dores, amores, desamores, dissabores
Que nos tornam indefesos
E nos fazem tão meninos,
Tão crianças, tão iguais.

Palavralgia
Escolhi o vocábulo
Melancolia para dissecar.
Cortei um primeiro pedaço e
Encontrei mel,
Prossegui o intento e
Descobri lia, pretérito imperfeito
Do verbo ler e
Come, de comer.
Continuei retalhando e
Misturando os pedaços,
Achei alia, de aliar;
Mela, de melar;
Cola, de colar;
Ame, de amar
E também ela, eco, ema, lema.
Neste processo, avistei além.
Vendo além, compreendi
Que um corte na melancolia
Pode desvelar muitas possibilidades.
Prosseguindo o exercício,
Decerto seja possível
Encontrar ainda muitas novidades.
Palavralgia
Quando amanhecer,
Já haverei partido
Para os saudosos, verdejantes e ensolarados
Sítios de atrás,
Onde não existe nunca mais.
Palavralgia
Vivo de delícias escaldantes.

Ando sob o sol,
O suor me lava a alma.

Renasço das cinzas e
Alço voos estonteantes
Sem medo de que o sol
Me derreta as asas.

O calor me aquece os sentimentos.
Boto lenha na fogueira
Para não deixar esfriar.

Preciso manter a energia, a chama,
Sou ariana
Não posso deixar apagar!