Palavralgia
Sou um ser cheio de questionamentos
E contrários direcionamentos.
Por isso me derramo sobre a folha em branco,
Como quem se esparrama no divã.
Aqui é o espaço de me expor,
Me desmancho toda em palavras
sem jamais querer me recompor.
Palavralgia
Há tantas maneiras de se interpretar árvore, quantas há de senti-la. 

A árvore pode parecer um ser estranho com suas raízes a rasgarem o solo serpenteando em busca de alimento e sustentação, num movimento constante, mas imperceptível aos olhos.

Raízes lhe propiciam firmeza e segurança, qual alicerce fincado nas profundezas do chão, semelhando-se a minúsculas sondas que vão se enrobustecendo, de tal forma, que acabam por se transformarem, elas próprias, em cópia soterrada do vegetal aéreo que sustentam. 

A versão subterrânea do vegetal trabalha escondida, retirando do solo resistência e subsistência às adversidades dos tempos que, dependendo da intensidade, podem abalar as estruturas da árvore e tombá-la ao chão. 

As seivas, que lhe sustentam a existência, são conduzidas por caules e troncos a erigirem-se qual escultura esculpida pelas próprias necessidades de ar, luz e direção. 

Galhos e folhas estendem-se pelos ares como infinitos braços abertos a oferecerem seus frutos doces, azedos, amargos e até venenosos, conforme a natureza do vegetal.

Mas é a conjunção de todos os aspectos, que totaliza a particularidade do ser. 

Horizontalmente limitada, caminhos, trilhas e atalhos passam pela árvore, já que ela não pode passar pelos atalhos, trilhas e caminhos. Mas isso leva tempo, tempo de árvore com raízes profundas, pois, à medida que sua parte aparente se faz, também vai se construindo a parte recôndita das profundezas do ser. 

Impedida nesses trajetos, descobre outras direções e nelas se lança até onde consegue alcançar, embora, muitas vezes, de forma sinuosa e contorcida. 

No solo se fixa, mas seu objetivo está muito além. Na superfície do chão, uma árvore parece ser sempre apenas uma árvore. 

Além da árvore, mas intrinsecamente ligados a ela, há o florescer, o frutificar, o viver, mas também o murchar e o morrer e, ainda, há a sombra. 

Que interpretações podem-se dar à sombra, tão intimamente ligada à natureza do ser? 

O fruto e a semente podem ser sua concretização e continuação, porém o seu real projeto é a sombra. 

Então é possível fazer várias leituras de uma árvore. Nesta breve análise, apenas algumas são propostas: uma aparente, que floresce e frutifica; uma escondida, que trabalha, incessantemente, para que a dimensão que floresce e frutifica possa aparecer; e outra etérea, que imita a forma da sua dimensão aparente, mudando constantemente de posição e nuances, de acordo com a ocasião. 

O lado sombra só existe por causa da dimensão do ser enterrada nas profundezas. 

A própria árvore sugere seu projeto sombra como abrigo, mas outras projeções também podem ser aceitas. 

Inumeráveis outros aspectos podem ainda ser encontrados. Não importa a interpretação, o mais importante mesmo é se fazer disponível e ter sensibilidade para interpretar. 

Você já parou para interpretar a existência de uma árvore?
Palavralgia
Eu queria que meu aniversário
Durasse por todos os dias
Para eu receber
Flores, telefonemas e
Mil desejos de felicidades.

Eu queria que meu aniversário
Tivesse 365 dias de duração
Para comemorá-lo
Efusivamente a cada dia
Pelo simples fato de ter nascido.

Eu queria que no meu aniversário
Presente mesmo
Fosse a sua lembrança,
A sua ligação,
As suas palavras amigas,
Mas, acima de tudo,
O seu abraço,
Porque o melhor presente de todos
É ser presente!
Palavralgia
Já não sou a mesma.
Fui devastada.
Meus restos foram
Jogados sobre mim.

Estou em colapso.
Minhas forças se
Esvaem água abaixo.

Alagada, boio entre
Meus detritos
Em profusão.

Já quase sem fôlego,
Agarro-me ao que
Talvez possa ser a salvação
Em meio a toda essa poluição.

Luto constantemente contra
Os habitantes de mim
Para que eu não entre
Em completa extinção.