A árvore pode parecer um ser estranho com suas raízes a rasgarem o solo serpenteando em busca de alimento e sustentação, num movimento constante, mas imperceptível aos olhos.
Raízes lhe propiciam firmeza e segurança, qual alicerce fincado nas profundezas do chão, semelhando-se a minúsculas sondas que vão se enrobustecendo, de tal forma, que acabam por se transformarem, elas próprias, em cópia soterrada do vegetal aéreo que sustentam.
A versão subterrânea do vegetal trabalha escondida, retirando do solo resistência e subsistência às adversidades dos tempos que, dependendo da intensidade, podem abalar as estruturas da árvore e tombá-la ao chão.
As seivas, que lhe sustentam a existência, são conduzidas por caules e troncos a erigirem-se qual escultura esculpida pelas próprias necessidades de ar, luz e direção.
Galhos e folhas estendem-se pelos ares como infinitos braços abertos a oferecerem seus frutos doces, azedos, amargos e até venenosos, conforme a natureza do vegetal.
Mas é a conjunção de todos os aspectos, que totaliza a particularidade do ser.
Horizontalmente limitada, caminhos, trilhas e atalhos passam pela árvore, já que ela não pode passar pelos atalhos, trilhas e caminhos. Mas isso leva tempo, tempo de árvore com raízes profundas, pois, à medida que sua parte aparente se faz, também vai se construindo a parte recôndita das profundezas do ser.
Impedida nesses trajetos, descobre outras direções e nelas se lança até onde consegue alcançar, embora, muitas vezes, de forma sinuosa e contorcida.
No solo se fixa, mas seu objetivo está muito além. Na superfície do chão, uma árvore parece ser sempre apenas uma árvore.
Além da árvore, mas intrinsecamente ligados a ela, há o florescer, o frutificar, o viver, mas também o murchar e o morrer e, ainda, há a sombra.
Que interpretações podem-se dar à sombra, tão intimamente ligada à natureza do ser?
O fruto e a semente podem ser sua concretização e continuação, porém o seu real projeto é a sombra.
Então é possível fazer várias leituras de uma árvore. Nesta breve análise, apenas algumas são propostas: uma aparente, que floresce e frutifica; uma escondida, que trabalha, incessantemente, para que a dimensão que floresce e frutifica possa aparecer; e outra etérea, que imita a forma da sua dimensão aparente, mudando constantemente de posição e nuances, de acordo com a ocasião.
O lado sombra só existe por causa da dimensão do ser enterrada nas profundezas.
A própria árvore sugere seu projeto sombra como abrigo, mas outras projeções também podem ser aceitas.
Inumeráveis outros aspectos podem ainda ser encontrados. Não importa a interpretação, o mais importante mesmo é se fazer disponível e ter sensibilidade para interpretar.
Você já parou para interpretar a existência de uma árvore?