Palavralgia
Roberto Weigand
Ilustração: Roberto Weigand
Fixei moradia no “quase”. Eu me afeiçoo às palavras, mesmo àquelas que parecem só ter um lado. Talvez seja isto o que mais me atraia a estas paragens. Fui me deixando ficar e, quando dei por mim, já havia feito a mudança. 

Ao que parece, “quase” é aquilo que ainda não chegou a ser e está entre o real e o que nunca se tornará ou, pelo menos, demandará algum tempo. O “quase” vale muito pelo que ainda falta e por encerrar em si uma expectativa de completude. Por isso nele edifico a minha residência.

Se seu valor está, justamente, no que falta e este é um dos seus mais importantes aspectos, ele deixa de ser unilateral, porque, afinal, possui uma dimensão a ser construída. É exatamente este terreno árido, sombrio e incerto que escolho como exílio. Sou fugitiva da obviedade e muito democrática em todos os assuntos. Declaro aberta a discussão.