Estou trabalhando com afinco na desconstrução daquilo em que o ditado social quer fazer de mim.
"Eu sou personagem, mas também poeta, tentando cantar o mundo à minha maneira. Essa fusão de imaginário e real compõe o infinito e a poesia.
Cada estrela é um verso do Canto do universo e também do Canto do mar, mas do Canto do sol é verso único que ilumina o Canto que mais me encanta e que em mim eclode fazendo nascer esta ode que para você eu canto."
Cada estrela é um verso do Canto do universo e também do Canto do mar, mas do Canto do sol é verso único que ilumina o Canto que mais me encanta e que em mim eclode fazendo nascer esta ode que para você eu canto."
Palavralgia
O livro Palavralgia será lançado em maio. Data e local estão sendo definidos pela Editora Pandorga e serão anunciados aqui.
O título estará disponível em livrarias e na versão E-book, livro digital:
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IBA (Grupo Abri)
Kobo e suas afiliadas (Livraria Cultura)
Livraria Saraiva
Livrus
Wook (Grupo Porto – Portugal)
Palavralgia
Eu queria falar sobre a bunda.
No nosso mundo, a bunda abunda, enquanto outra parte do nosso corpo, bem mais excitante e interessante, entra em franca extinção.
Tudo bem, tudo bem, eu sei que beleza é fundamental e tal, mas, na boa, não dá para dar uma engrossada no conteúdo também? A bunda virou uma praga. Ela invade nosso espaço. Para onde quer que olhemos, lá está uma, abundante, andante e rebolante. Há que se desenvolver um pesticida contra está peste. Na grande maioria das vezes, onde há uma bunda abundante, o cérebro resta atrofiado.
Nosso mundo valoriza mais a bunda que o cérebro. E para que serve uma bunda afinal? Refletindo bem, uma bunda tem lá seus manejos e traquejos, tem lá sua importância, mas é preciso ser um glúteo que tenha bagagem e não apenas um avantajado bagageiro vazio.
É preciso salvar o mundo da bunda. Isso está pegando mal para nós. Que tal, para engrossar o conteúdo, exercícios de contorcionismo e musculação cerebral? Já pensou em exibir os lobos frontais sarados e o córtex malhadão, produzindo aquelas ideias super criativas, tiradas sagazes, raciocínios rápidos e construções inteligentes?
Olha! Não dá para colocar a bunda no lugar da cabeça, embora, em muitos casos, tenhamos a nítida impressão de que as posições estão realmente invertidas com suas respectivas funções preservadas. É lícito - e muito notório, ou melhor, notável - ter a bunda bonita, mas não rola substituí-la pelo cérebro.
Que tal deixar todo mundo babando com o rebolado e o remelexo do cerebelo? Na avenida, vem lá, a hipófise fazendo evoluções fantásticas. Os neurônios, de mãos dadas, na comissão de frente, fazendo aquelas sinapses que impressionam a passarela. O hipotálamo, de Mestre Sala, exibindo toda a sua importância nos processos metabólicos do sistema. O que diriam de nós lá fora?
Se o cérebro fosse desfilar na avenida, o samba poderia ser assim:
"Raiou no céu um brilho diferente,
que ilumina toda a gente,
sem paetê e sem pingente.
(Simbora...)
É uma visão bem mais profunda,
que abandonou a bunda,
deixando de ser indecente
pra ser mais inteligente..."
Não seria um desbunde?
No nosso mundo, a bunda abunda, enquanto outra parte do nosso corpo, bem mais excitante e interessante, entra em franca extinção.
Tudo bem, tudo bem, eu sei que beleza é fundamental e tal, mas, na boa, não dá para dar uma engrossada no conteúdo também? A bunda virou uma praga. Ela invade nosso espaço. Para onde quer que olhemos, lá está uma, abundante, andante e rebolante. Há que se desenvolver um pesticida contra está peste. Na grande maioria das vezes, onde há uma bunda abundante, o cérebro resta atrofiado.
Nosso mundo valoriza mais a bunda que o cérebro. E para que serve uma bunda afinal? Refletindo bem, uma bunda tem lá seus manejos e traquejos, tem lá sua importância, mas é preciso ser um glúteo que tenha bagagem e não apenas um avantajado bagageiro vazio.
É preciso salvar o mundo da bunda. Isso está pegando mal para nós. Que tal, para engrossar o conteúdo, exercícios de contorcionismo e musculação cerebral? Já pensou em exibir os lobos frontais sarados e o córtex malhadão, produzindo aquelas ideias super criativas, tiradas sagazes, raciocínios rápidos e construções inteligentes?
Olha! Não dá para colocar a bunda no lugar da cabeça, embora, em muitos casos, tenhamos a nítida impressão de que as posições estão realmente invertidas com suas respectivas funções preservadas. É lícito - e muito notório, ou melhor, notável - ter a bunda bonita, mas não rola substituí-la pelo cérebro.
Que tal deixar todo mundo babando com o rebolado e o remelexo do cerebelo? Na avenida, vem lá, a hipófise fazendo evoluções fantásticas. Os neurônios, de mãos dadas, na comissão de frente, fazendo aquelas sinapses que impressionam a passarela. O hipotálamo, de Mestre Sala, exibindo toda a sua importância nos processos metabólicos do sistema. O que diriam de nós lá fora?
Se o cérebro fosse desfilar na avenida, o samba poderia ser assim:
"Raiou no céu um brilho diferente,
que ilumina toda a gente,
sem paetê e sem pingente.
(Simbora...)
É uma visão bem mais profunda,
que abandonou a bunda,
deixando de ser indecente
pra ser mais inteligente..."
Não seria um desbunde?
Palavralgia
Eu já fui árvore.
E, com longos braços contorcidos, erguia flores, folhagens frescas e frutos à imensidão.
Eu já fui árvore e gostava mesmo era de chuva! Depois eu ficava toda enfeitada com os diamantes que as gotas d’água formavam sobre minhas folhas. Quando o sol batia, os diamantes rebrilhavam mais! O vento chegava e eu ficava toda assanhada.
Foi sempre assim. Ele vinha, brincava entre meus braços e partia levando minhas joias brilhantes e alguns pedaços de mim.
Eu já fui árvore e aprendi a ler passarinhos. Quando não vinham me visitar, estavam formando partituras nos fios e eu já sabia de cor o seu canto encantado.
O vento também cantarolava para mim, um sussurro lamentoso. Eu olhava para os fios e a pauta musical estava vazia. Era quando os pássaros vinham me visitar, me fazer de abrigo e me encantar. Eu ficava feliz, sabia que ia chover e de novo me enfeitar. Nem tudo é lamento!
De tanto ser árvore, criei raiz profunda e me espalhei pelo ar.
Eu gostava de ser assim: ler pássaros e ser tocada pelo vento, sem partituras, apenas com partidas constantes, mas, ainda assim, tocada.
Tornei-me árvore frondosa e especializei-me em ler partituras de passarinhos e também em ser tocada pelo vento, mas, sobretudo, em ver ir embora partes de mim.
E, com longos braços contorcidos, erguia flores, folhagens frescas e frutos à imensidão.
Eu já fui árvore e gostava mesmo era de chuva! Depois eu ficava toda enfeitada com os diamantes que as gotas d’água formavam sobre minhas folhas. Quando o sol batia, os diamantes rebrilhavam mais! O vento chegava e eu ficava toda assanhada.
Foi sempre assim. Ele vinha, brincava entre meus braços e partia levando minhas joias brilhantes e alguns pedaços de mim.
Eu já fui árvore e aprendi a ler passarinhos. Quando não vinham me visitar, estavam formando partituras nos fios e eu já sabia de cor o seu canto encantado.
O vento também cantarolava para mim, um sussurro lamentoso. Eu olhava para os fios e a pauta musical estava vazia. Era quando os pássaros vinham me visitar, me fazer de abrigo e me encantar. Eu ficava feliz, sabia que ia chover e de novo me enfeitar. Nem tudo é lamento!
De tanto ser árvore, criei raiz profunda e me espalhei pelo ar.
Eu gostava de ser assim: ler pássaros e ser tocada pelo vento, sem partituras, apenas com partidas constantes, mas, ainda assim, tocada.
Tornei-me árvore frondosa e especializei-me em ler partituras de passarinhos e também em ser tocada pelo vento, mas, sobretudo, em ver ir embora partes de mim.
Palavralgia
Aproveito o que resta de mim para fazer de adubo para um novo eu.