Eu já fui árvore.
E, com longos braços contorcidos, erguia
flores, folhagens frescas e frutos à imensidão.
Eu já fui árvore e gostava mesmo era de chuva!
Depois eu ficava toda enfeitada com os diamantes que as gotas d’água formavam
sobre minhas folhas. Quando o sol batia, os diamantes rebrilhavam mais! O
vento chegava e eu ficava toda assanhada.
Foi sempre assim. Ele vinha, brincava entre meus braços e partia levando minhas joias brilhantes e alguns pedaços de mim.
Foi sempre assim. Ele vinha, brincava entre meus braços e partia levando minhas joias brilhantes e alguns pedaços de mim.
Eu já fui árvore e aprendi a ler passarinhos. Quando não vinham me visitar, estavam formando partituras nos fios e eu já sabia de cor o seu canto encantado.
O vento também cantarolava para mim, um sussurro lamentoso e sedutor. Eu olhava para os fios e a pauta musical estava vazia. Era quando os pássaros vinham me visitar, me fazer de abrigo e me encantar. Eu ficava feliz, sabia que ia chover e de novo me enfeitar. Nem tudo é lamento!
De tanto ser árvore, criei raiz profunda e me espalhei pelo ar.
Eu gostava de ser assim: ler pássaros e ser tocada pelo vento, sem partituras, apenas com partidas constantes, mas, ainda assim, tocada.
Tornei-me árvore frondosa, especializei-me em ler partituras de passarinhos e também em ser tocada pelo vento, mas, sobretudo, a florescer sempre com mais força, após ver ir embora com ele as partes arrancadas de mim.