Palavralgia

Venho, ao longo da minha existência, empregando todas as forças em improfícuas tentativas de arrancar de mim mesma esta dor aguda e profunda, que se funde ao meu ser.

Após longas, persistentes e mal sucedidas investidas, finalmente atingi a compreensão de que não posso extinguir a dor em mim, porque, sem ela, eu simplesmente não existo, pois sou o que em mim mesma dói.

Tentava exterminar em mim o que me faz viver, buscando em remédios ineficazes a cura para o meu “mal”. Mas, como disse Clarice: “não adianta passar perfume em baixo da asa de uma galinha, porque a galinha não pode ser curada de ser galinha e o Homem não pode ser curado de ser Homem”.

Os anos, no entanto, contrariando toda essa minha pueril percepção, aconselham a deixar os paliativos de lado e cativar a dor com cuidados especiais, como quem cultiva flores que precisam desabrochar para enfeitar e perfumar o jardim.
Palavralgia
Sinto-me, desde há muito, profundamente comprometida com a literatura. Mas, ao mesmo tempo, ganho asas neste campo; sinto-me completamente livre, independentemente de qualquer olhar.
Palavralgia

Sinto certo desconforto em ser...

Ter consciência de que o nada não existe, por um lado, reforça ainda mais a delicada questão do não ser, ao mesmo tempo em que lança luz sobre a realidade do ser. Então, o que posso dizer de concreto mesmo sobre a consciência da inexistência do nada, é que ela é de natureza ambígua.

Vivo num mundo que não me pertence e ao qual eu também não pertenço, talvez por isso esta sensação de inexistência. Apenas preencho meus dias com os “nadas” do mundo.
Não ser é ser alguma coisa. Transitando pela ambiguidade, acabo registrando esta existência do não ser. Se bem que esta questão de ser ou não ser é bem antiga e isso de certa forma é um consolo.
É que, em mim, como em cada um, estas questões parecem ser mais profundas. No meu caso, em função das longas margens dos “nadas” em que me afogo. Não aprendi a “nadar”, nem a “tudar”. Não, não aprendi. Porque, inclusive, estes verbos também não existem, como tudo. Eu os invento numa tentativa de me expressar, garantindo, assim, uma possível subsistência neste mundo em que não se dá valor à palavra.

Sim, não aprendi a “nadar”. Estou tendo que aprender por força das correntezas, que me arrastam. Também não aprendi a “tudar”. Se assim não fosse, talvez não estivesse aqui expressando o nada através do qual sou arrastada.
Aprendi muitas coisas, que estão entre tudo e nada. Todas elas carrego comigo, enquanto sou obrigada a aprender a “nadar”. Eu tenho tudo nas mãos, mas de nada me servem todas estas coisas. Talvez elas me valham numa tentativa de salvamento, o qual ainda, nem de longe, vislumbro a possibilidade de acontecer. E o nada, como não é difícil de imaginar, também não oferece qualquer tipo de auxílio. O nada é apenas nada, o que já é alguma coisa... e eu, este ser híbrido, transitando livremente entre tudo e nada, ser e não ser... num ciclo que ainda não consigo quebrar, por isso a irresistível força da correnteza.
Aqui é tudo ou nada. Mas acaba que as duas coisas se confundem. O que é concreto demais enrijece a essência, que se torna inflexível, bruta e o que é essencial evapora-se entre margens longínquas, sinuosas e sem horizontes.
É por isso, que reluto em admitir, nestes profundos “nadas” sem beiradas por que me arrasto, que de nada, nada mesmo, neste mundo me servem todas as coisas que conquistei entre tudo e nada.

(escrito em 31/07/2011)
Palavralgia
Remexendo, ainda, a minha arca do tesouro, deparei-me com esta relíquia de 1998, que compartilho com vocês.

O mundo é uma grande poesia escrita pelo maior poeta de todos e a beleza de seus Cantos pode ser contemplada a todo momento pelos habitantes desse imenso poema.

Eu, que sou personagem, contemplo o que considero o melhor de todos: o Universo, cheio de mistérios indecifráveis, mesmo pelos mais respeitáveis críticos. Este Canto não é verso único, é multifacetado porque encerra em si a essência da poesia, obra que só poderia mesmo ter sido criada por inspiração divina.

Os outros Cantos, cada um se supera em riqueza de imagens e beleza de versos. O mar, o sol, a lua, o céu, as florestas, desertos, montanhas e tantos outros, cada um, um Canto do imenso poema, e todos encantam o desencanto e são cantados em tantos outros cantos e contos.

Eu sou personagem, mas também poeta, tentando cantar o mundo à minha maneira. Essa fusão de imaginário e real compõe o infinito e a poesia.

Cada estrela é um verso do Canto do universo e também do Canto do mar, mas do Canto do sol é verso único que ilumina o Canto que mais me encanta e que em mim eclode fazendo nascer esta ode que para você eu canto.

(escrito em 25/12/1998)
Palavralgia
Ainda bem que no último post utilizei o verbo pretender. Sim, apenas uma pretensão e, infelizmente, não uma realização. Isso se deve ao extraordinário sucesso, o que me instiga, ainda mais, a querer assistir ao musical, ao qual não pude comparecer na última 6ª feira, como pretendido e avisado aqui no Blog. Não havia mais ingresso para este final de semana, vamos ver se consigo para o próximo. Por este motivo, ainda não será possível compartilhar as minhas impressões sobre o espetáculo.
Palavralgia
Já tenho programa cultural para esta semana. Que delícia! Na  próxima 6ª feira, dia 12/08, pretendo assistir ao Musical Tim Maia – Vale Tudo, que está em cartaz lá no Teatro Carlos Gomes. O musical foi baseado no livro do Nelson Mota, de mesmo nome, que é um tremendo sucesso. Eu amei, por isso não quero deixar de ver o show. Depois posto aqui as minhas impressões sobre o espetáculo.

Na minha agenda, já está programado, também, para assistir a 2 debates que selecionei no Café Literário, da XV Bienal do Livro, que vai de 1º a 11 de setembro, no Rio Centro: o primeiro vai acontecer às 20 h do dia 03/09, Sarau Poético, com Ferreira Gullar, Antonio Cícero, Viviane Mosé e Susana Vargas mediando e o segundo, às 20 h do dia 11/09, Sarau Poético – Homenagem a Manoel de Barros, que é um autor que eu amo de paixão, tenho vários livros dele. Os participantes serão: o ator e poeta Antonio Calloni, a poeta Elisa Lucinda e Ramon Mello mediando. Quero muito ver isso!

Ontem comprei o livro Solar da Fossa, do jornalista Toninho Vaz. Já comecei a ler e estou amando. O livro conta a história de uma pensão, com 85 apartamentos, que serviu de incubadora de talentos, conforme diz o autor: “nenhum outro endereço no Rio, em qualquer época concentrou tanta gente que, um dia, atuaria de forma tão decisiva na cultura.” Pelo Solar, que situava-se onde, atualmente, localiza-se o Shopping Center Rio Sul, passaram, entre os anos de 1964 e 1971, quando foi demolido, personalidades como, Caetano Veloso, Gal Costa, Paulo Coelho, Paulinho da Viola, Paulo Liminski, Tim Maia, Maria Gladys, Bety Faria, Ítala Nandi, Antônio Pitanga, Zé Ketti entre outros. “O Solar foi o endereço e abrigo de poetas, compositores, jornalistas, artistas plásticos – loucos, cabeludos e ‘desbundados’ que vinham de todos os cantos do país e encontravam ali o jardim ideal para plantar suas ‘folhas de sonho’ e materializar verdadeiras obras de arte.”
Palavralgia
Abaixo, fragmento da relíquia escrita lá por meados dos anos 70. Continuo procurando, nas minhas memórias, o complemento deste poema que reflete a preocupação e a inocência da menina de 11/12 anos.

Se um dia se perder,
Nesta escuridão,
Procure à sua volta,
Ainda existe irmão.
Se não encontrar,
Quem lhe estenda a mão
É só procurar,
Que um dia você vai achar...

Encare sempre a realidade de frente
Não dê essa guerra perdida
por uma batalha vencida...


Palavralgia
Cada um tem uma verdade, inventada e institucionalizada por si próprio.
Nós construímos, vestimos, comemos, respiramos a verdade. Trabalhamos, dormimos, acordamos e casamos com ela, fazemos ela crescer. Todos os nossos pensamentos, desejos, ações e atitudes estão fortemente embasados na nossa verdade.
Acreditamos firmemente estar a nossa existência seguramente calcada nesta verdade que incorporamos e, investidos de todo o poder que a verdade nos confere, falamos alto, gritamos, esbravejamos, batemos no peito.
Bilhões e bilhões de pessoas constituem a população mundial e, assim como eu construo a minha verdade, cada um edifica a sua.
Afinal, com quem está a verdade?
Acontece que existe um dispositivo especializado em detonar verdades individuais com precisão. Este dispositivo foi caprichosamente denominado de adversidade. A adversidade normalmente se apresenta quando nos deparamos com outras verdades.
Diante da adversidade, o nosso edifício rui e novas verdades se apresentam. Percebemos que já não vestimos aquela verdade, que ela arrumou outro e foi embora, que já fomos despedidos sem despedida etc.
O caleidoscópio gira e observamos, por outra lente, que aquela verdade, aquilo que acreditávamos ser, chocou-se com as verdades com que as outras pessoas se vestem e revestem.
Tem gente que morre achando que é tudo verdade!
Já que teimamos em criar uma verdade, é bom construirmos verdades flexíveis, porque as rígidas demais são as que se partem com maior facilidade e quanto maior o tamanho da nossa verdade, maiores os estragos em seu desmoronamento. É duro ver tudo em que acreditávamos ardentemente cair por terra completamente. Mais duro ainda é, de uma hora para outra, tentar caber numa nova verdade e ter que viver de meias verdades ou, na falta da nossa própria, nos apropriarmos da verdade alheia.
A bem da verdade, temos que admitir que ela é uma só e que ninguém tem seu certificado de propriedade.
Então, o melhor mesmo é assumirmos de vez que, definitivamente, não somos donos da verdade.