Palavralgia
Sou expectadora
Quase inconsciente,
Quase consciente,
Dos sentimentos
Que afloram em mim.

Palavralgia
No vazio da boca
Toda intenção,
Mas também a omissão.

No vazio da boca
A prudência,
A não violência.

No vazio da boca
A fome,
A palavra que some,
O silêncio que consome.

No vazio da boca
O inaudível,
O invisível,
O indizível.

No vazio da boca
O pensamento,
O consentimento.

No vazio da boca
A falta de diálogo
Que põe fim às relações.

No vazio da boca
A opção,
A indecisão.

No vazio da boca
A solução,
Pelo sim, pelo não.

No vazio da boca
O desejo
O ensejo.

No vazio da boca
Dentes e sorrisos amarelos
Retratam tudo o que há no vazio.

No vazio da boca
Tudo pode acontecer,
Até a palavra morrer
Antes mesmo de nascer.

No vazio da boca
O limite é o céu.
Qual é o seu?
Palavralgia
Eu não sou livre
Porque sinto fome.
A fome escraviza
Porque impõe a comida.
Ou come, ou morre.
É mais ou menos um
“dá ou desce” ou
“a bolsa ou a vida”.
Então, se correr o bicho pega,
Mas, se ficar, é o bicho que come! 

Não existe liberdade
Na necessidade.
Eu necessito.
Por isso não conheço
A liberdade, nem a Fome.

Quem não come
Necessita
Mas se liberta
Pela simples falta de alternativa,
Pois quebra as correntes da
Necessidade imposta,
Sai do ciclo vicioso diário.

Contudo, a falta de alternativa
Também é prisão.
Bom mesmo será alcançar
A liberdade por opção.

Aí não haverá mais fome
E as alternativas
Não mais se escassearão
Porque quem não come,
Jamais será comido.