Palavralgia
Sou fazendeira.
Em minhas propriedades,
Cultivo letras, fonemas, morfemas
para produzir poemas.
Por ocasião da colheita,
Passo tudo por máquinas seletivas,
Depois agrupo em vocábulos e recolho no celeiro.
Então, é preciso debulhar, desfiar, tirar a casca
E espremer para obter o sumo,
Aquilo que há de mais essencial na palavra.
Semeio-as só por causa do seu néctar.
Assim nutro-me, cultivando palavras para fazer poesia.
Para semear uma boa lavra,
É preciso palavrear a semente
E preparar bem o campo.
Às vezes, ele sofre intempéries e pragas,
Que impedem seu florescimento.
Mas nada disso me faz desistir de
Ser empreendedora no campo das palavras e
Incentivadora da escrita e da leitura.
Estas, capazes de nos sustentar
E prover novas semeaduras
Para impedir que desfaleça
Nossa tão desnutrida cultura.
Palavralgia
Pausa para um cafezinho com Pessoa.
("Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." Estas são palavras do poeta, que gostaria fossem minhas.)
Os contos constantes do livro Além do Muro da Estrada foram inspirados no seu poema Eros e Psiquê. Esse foi o tema da conversa durante o café.
Sim, como gostaria de ter realmente tido esta conversa e contado a ele quais foram as minhas motivações ao escrever cada conto e desenvolver cada tema! Fico imaginando quais seriam as suas impressões e respostas.
Um hiato de 30 anos existe entre a sua morte e o meu nascimento. Este fato instiga, ainda mais, a curiosidade de como poderia se dar este diálogo por meio da mesma língua Portuguesa que, no entanto, apresentaria as diferenças regionais, temporais e, é claro, intelectuais. As antenas de Pessoa atravessam todos os tempos. Sou muito fã. É um dos meus ídolos.
A cantora Maria Bethânia, de quem sou muito fã também, sempre diz que Pessoa é o poeta de sua vida. Faço coro com a cantora e divulgadora da obra deste incomparável poeta.
Eu, que no primeiro livro Palavralgia, escrevi sobre "dor', deixo, abaixo, para reflexão, o poema AUTOPSICOGRAFIA, de Pessoa, sobre o mesmo tema.
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Poesias. Fernando Pessoa. 1ª publ. in Presença , nº 36. Coimbra: Nov. 1932.
Leio e releio este poema, mas confesso que ainda tenho dificuldade de alcançar seu sentido mais profundo. Este fato me remete a uma frase da Clarice Lispector em que ela diz que "é preciso saber não entender." Eu estou tentando aprender.
("Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar sozinho." Estas são palavras do poeta, que gostaria fossem minhas.)
Os contos constantes do livro Além do Muro da Estrada foram inspirados no seu poema Eros e Psiquê. Esse foi o tema da conversa durante o café.
Sim, como gostaria de ter realmente tido esta conversa e contado a ele quais foram as minhas motivações ao escrever cada conto e desenvolver cada tema! Fico imaginando quais seriam as suas impressões e respostas.
Um hiato de 30 anos existe entre a sua morte e o meu nascimento. Este fato instiga, ainda mais, a curiosidade de como poderia se dar este diálogo por meio da mesma língua Portuguesa que, no entanto, apresentaria as diferenças regionais, temporais e, é claro, intelectuais. As antenas de Pessoa atravessam todos os tempos. Sou muito fã. É um dos meus ídolos.
A cantora Maria Bethânia, de quem sou muito fã também, sempre diz que Pessoa é o poeta de sua vida. Faço coro com a cantora e divulgadora da obra deste incomparável poeta.
Eu, que no primeiro livro Palavralgia, escrevi sobre "dor', deixo, abaixo, para reflexão, o poema AUTOPSICOGRAFIA, de Pessoa, sobre o mesmo tema.
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Poesias. Fernando Pessoa. 1ª publ. in Presença , nº 36. Coimbra: Nov. 1932.
Leio e releio este poema, mas confesso que ainda tenho dificuldade de alcançar seu sentido mais profundo. Este fato me remete a uma frase da Clarice Lispector em que ela diz que "é preciso saber não entender." Eu estou tentando aprender.
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Palavralgia
As minhas experiências no plano das ideias são sempre muito mais reais e plausíveis. Por isso, o mundo da concretude me parece tão áspero, grosseiro, desconfortável, incômodo, irreal.
Qual será o plano das ideias? Remover da estante o retrato de um instante, transmutar o mundo, subverter a ordem, planejar nova ordem, desordenar tudo de vez, transgredir a ordem?
Certamente, o plano das ideias é sair definitivamente da planície para alcançar planos outros em que não exista tanta tolice. Seja o que for, quero fazer parte deste plano para não ficar em segundo plano engrossando as fileiras da mesmice.
Qual será o plano das ideias? Remover da estante o retrato de um instante, transmutar o mundo, subverter a ordem, planejar nova ordem, desordenar tudo de vez, transgredir a ordem?
Certamente, o plano das ideias é sair definitivamente da planície para alcançar planos outros em que não exista tanta tolice. Seja o que for, quero fazer parte deste plano para não ficar em segundo plano engrossando as fileiras da mesmice.
Palavralgia
Dia desses, me peguei falando a seguinte frase para um jovem: “vocês são o futuro deste país.”. Engraçado! Eu mesma, há muitos anos, ouvi esta frase de um queridíssimo professor. Quantos de nós não ouvimos esta afirmação na escola? O interessante é pararmos para refletir sobre o que nos tornamos neste futuro previsto na assertiva; olharmos para nós mesmos e observarmos de que maneira nos transformamos no futuro ou, melhor ainda, como contribuímos para transformar o futuro que, hoje, é o nosso presente.
Quando examinamos a nossa linha do tempo, verificamos que o futuro é o resultado de todas as experiências que vivenciamos e ações que empreendemos no mundo, do qual não estamos apartados. Nenhuma novidade nisso. A questão é que precisamos ter esta consciência desde cedo. Mas este trabalho de despertamento desde a infância só pode ser realizado através da educação. E não somente a escolar, mas, sobretudo, a educação familiar, com ênfase na formação do caráter do indivíduo. É um trabalho conjunto. Não dá para fechar os olhos e delegar tudo à escola. Se atentarmos para a situação da educação, de maneira geral, no nosso país, é possível vislumbrar o futuro em que se transformará esta geração.
Em primeiro lugar, eu perguntaria quais são as prioridades da família brasileira. Só que antes disso, em incontáveis casos, é preciso perguntar onde está a família.
Hoje, os adultos que constituem a sociedade em suas diversas áreas são o futuro do pretérito. Um passado já distante e bem diferente. A questão de como será o futuro do presente é muito mais profunda e complexa. Contudo, propicia uma reflexão sobre as perfeições, imperfeições, mais que perfeições e, eu adicionaria, mais que imperfeições de cada tempo.
Este mesmo jovem, com quem conversava sobre o futuro do Brasil, quando questionado, me disse que seu professor de redação tem preferido conversar sobre temas ligados às áreas do conhecimento porque o nível cultural da turma está muito baixo e, consequentemente, a produção textual, medíocre.
Enquanto isso, livrarias encerram suas atividades país afora. Esta constatação é muito triste. Duas coisas que deveriam caminhar sempre juntas tomam direções completamente opostas. Jovens transitam, muitas vezes, por obscuras estradas da tecnologia e do desinteresse, talvez pela falta de orientação e incentivo. É aí que entra o papel primordial e imprescindível dos responsáveis. Em contrapartida, livros deixam de ser lidos e a mediocridade só avança.
Um país sem leitores não produz ideias, conhecimento, progresso e desenvolvimento. Antes, ocupa-se com questões menores, que vemos aos milhares todos os dias, e que não levam a nada.
O sambista, certa feita, registrou magistralmente seu recado em brilhantes versos musicais: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar, o morro foi feito de samba, de samba, pra gente sambar.”
O nosso pedido de hoje deveria ser:
“Não deixe o livro morrer,
não deixe o livro acabar,
o povo precisa de livros,
de livros para se educar.”.
Sem produção e circulação de ideias, não existe crescimento.
Palavralgia
Tenho escrito muitas coisas ultimamente, mas sou perfeccionista. Isto faz com que aproveite apenas em torno de 20% do que é produzido. E assim é a minha rotina de escritora, encher cadernos e mais cadernos com reflexões, pensamentos e sentimentos. Depois aguardar que decantem, fermentem para só então peneirar, refinar a fim de, quem sabe, um dia publicar. O objetivo é encantar, em primeiro lugar, a mim mesma, livrando-me das minhas "algias". 📖 📚